Introdução: Visão Panorâmica do Livro de 2 Reis
O livro de 2 Reis, juntamente com 1 Reis (e originalmente 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Crônicas), formava uma única obra literária na tradição hebraica, simplesmente chamada “Reis”.
A divisão em dois livros foi introduzida pelos tradutores da Septuaginta. Juntos, 1 e 2 Reis narram a história completa da monarquia, desde a sua ascensão com o ministério de Samuel até a sua queda nas mãos dos babilônios. A divisão entre 1 e 2 Reis ocorre em um ponto adequado, mas um tanto arbitrário, logo após a morte de Acabe (Reino do Norte) e Josafá (Reino do Sul).
O início de 2 Reis (caps. 1 e 2) continua a história do ministério de Elias, incluindo sua última profecia a Acazias de Israel e sua ascensão, marcando a posse de Eliseu.
Contexto: História dos Reinos Divididos (Israel e Judá) até seus respectivos cativeiros
1 e 2 Reis relatam a história dos reis de Israel e de Judá à luz das alianças de Deus. A tese principal do livro é que o bem-estar de Israel e de seus reis dependia diretamente da obediência às suas obrigações definidas na aliança mosaica.
O autor utiliza relatos sincrônicos para apresentar um quadro inter-relacionado dos acontecimentos nos dois reinos. O autor demonstra interesse pela fidelidade à aliança, em vez de se limitar a análises sociopolíticas, dando pouca atenção a reis politicamente importantes, mas infiéis, como Onri e Jeroboão II.
Período histórico coberto
O livro registra a história da monarquia de Israel desde os últimos dias de Davi até a data do exílio na Babilônia. O livro abrange o período da monarquia dividida, desde aproximadamente 930 a.C. até a queda de Samaria (Reino do Norte) em 721 a.C. (ou 722–721 a.C.) e a queda de Jerusalém (Reino do Sul) em 586 a.C.. O livro foi composto provavelmente durante o exílio babilônico, por volta de 550 a.C..
O Ministério do Profeta Eliseu (Capítulos 1-8)
A Transição: A Ascensão de Elias e o Chamado de Eliseu (Porção Dobrada do Espírito)
O ciclo de Elias é concluído com a sua ascensão ao céu. O rei Acazias de Israel (22.51—2 Rs 1.18) foi repreendido pela última profecia de Elias, morrendo conforme a palavra do Senhor. Elias foi levado ao céu em um carro de fogo, com cavalos de fogo, em um redemoinho. Elias, como Enoque antes dele, foi levado sem experimentar a morte física.

Eliseu, cujo nome significa “Deus é salvação” ou “Deus salva”, pediu que lhe fosse dada porção dobrada do espírito de Elias. Este pedido se referia aos termos do direito de herança, expressando o desejo de ser o herdeiro espiritual de Elias ou o filho primogênito (que recebia porção dobrada dos bens do pai).
Ao recolher o manto de Elias, Eliseu simbolizou sua sucessão ao ministério profético. A divisão milagrosa do rio Jordão, semelhante aos atos de Moisés e Josué, autenticou a sucessão de Eliseu.
Milagres de Eliseu
Os atos iniciais de Eliseu eram indicativos de seu ministério: ele traria bênçãos da aliança para aqueles que O buscavam (como curar as águas de Jericó, um sinal da graça de Deus) e maldições da aliança sobre aqueles que se afastavam (como o castigo dos jovens zombadores em Betel, um aviso de juízo nacional).
Eliseu realizou uma série extensa de milagres. Estes incluem:
- A multiplicação do azeite para uma viúva.
- O nascimento e a ressurreição do filho da sunamita.
- A cura de Naamã, o sírio.
- A cura do cozinhado envenenado.
- A multiplicação de pães.
- A recuperação do machado de um profeta.
Eliseu e os Reis de Israel
Durante a grande crise religiosa no Reino do Norte, com reis apóstatas, Eliseu (e Elias) serviram como representantes oficiais do Senhor, no lugar dos reis infiéis. Eliseu profetizou o livramento de Jorão, rei de Israel, juntamente com os reis de Judá e Edom, contra Moabe.
Ele também previu o cerco sírio de Samaria e seu fim. Eliseu visitou Damasco e, cumprindo uma missão originalmente dada a Elias, designou Hazael como rei da Síria, o qual se tornaria uma séria ameaça para Israel.
Rebelião, Juízo e Reis em Israel (Reino do Norte) (Capítulos 9-17)
A Unção de Jeú e a Destruição da Casa de Acabe
Eliseu instruiu um dos discípulos dos profetas a ungir Jeú. Jeú, comandante militar, foi ungido rei com a missão de destruir a casa de Acabe. A rebelião de Jeú (c. 841 a.C.) resultou no assassinato de Jorão (Israel) e Acazias (Judá). Jeú também executou Jezabel e massacrou a família de Acabe, erradicando o culto a Baal em Israel.
O Reinado de Jeú e seus Sucessores
Jeú reinou por vinte e oito anos. Sua dinastia continuou com sucessores como Jeoacaz (13.1-9) e Jeoás (13.10-25). No entanto, após a queda da dinastia de Jeú, o Reino do Norte entrou em um período de instabilidade política.
O Ministério dos Profetas Menores neste Período
O livro de 1 e 2 Reis destaca o papel dos profetas como emissários oficiais do Senhor. Neste período, o profeta Jonas, filho de Amitai, é mencionado por ter profetizado durante o reinado de Jeroboão II (2 Rs 14.25). Além disso, Amós e Oséias profetizaram durante o reinado de Jeroboão II, um tempo de grande prosperidade material, mas também de formalismo religioso, apostasia e injustiça social.
A Queda de Samaria e o Cativeiro Assírio
A monarquia do Reino do Norte foi marcada pela instabilidade e violência, com 20 governantes de nove dinastias diferentes ao longo de aproximadamente 210 anos. Todos os reis de Israel fizeram “o que o SENHOR reprova e andado nos caminhos de Jeroboão” (referindo-se ao estabelecimento dos bezerros de ouro em Betel e Dã).
O declínio e a queda do Reino do Norte foram rápidos após Jeroboão II. Tiglate-Pileser, rei da Assíria, invadiu Israel, levou habitantes para a Assíria (cumprindo a maldição do pacto) e impôs tributos. O último rei, Oséias (17.1-6), foi preso pelos assírios. No ano nono de Oséias (721 a.C.), o rei da Assíria tomou Samaria e transportou Israel para a Assíria. A razão deste exílio foi a persistente desobediência e a quebra da aliança.
Altos e Baixos em Judá (Reino do Sul) (Capítulos 11-20)
Atalia e a Preservação da Linhagem Davídica
O Reino do Sul (Judá) teve 20 governantes, todos descendentes de Davi, com exceção de Atalia, que usurpou o trono (841–835 a.C.). Atalia, mãe de Acazias e filha da casa de Acabe/Jezabel, tentou destruir toda a descendência real após a morte de seu filho. No entanto, Joás, filho de Acazias, foi resgatado secretamente por Jeoseba, irmã de Acazias, preservando assim a linhagem davídica. O Senhor poupou Judá e a casa real por causa da aliança que havia feito com Davi (2 Sm 7:16).
O Reinado de Joás e as Reformas Iniciais
O sacerdote Joiada liderou um golpe de Estado, depondo Atalia e entronizando Joás (11.1-21). A entronização de Joás incluiu a renovação da aliança do Sinai, reafirmando que eles seriam o povo do Senhor. Joás restaurou o Templo (caps. 11, 12).

Sucessão de Reis em Judá
Seguindo Joás (o qual posteriormente se desviou após a morte de Joiada), houve uma sucessão de reis, incluindo: Amazias (14.1-22), Azarias/Uzias (15.1-7), Jotão (15.32-38), e Acaz (cap. 16), cujo reinado foi um dos piores desvios da aliança.
O Reinado de Ezequias: Fé e Livramento (Confronto com Senaqueribe, doença e cura)
Ezequias (caps. 18—20) é um dos poucos reis que recebeu a aprovação total do autor por sua lealdade, comparado favoravelmente com Davi. Ele realizou reformas religiosas, removendo os altos e destruindo o poste-ídolo e a serpente de bronze que Moisés havia feito, a qual os israelitas adoravam.
Seu reinado foi marcado pelo confronto com Senaqueribe, rei da Assíria, em 701 a.C.. Senaqueribe sitiou e capturou cidades. Ezequias, por conselho do profeta Isaías, confiou no Senhor e não se rendeu. O Senhor interveio milagrosamente, e os assírios retrocederam.
Ezequias também adoeceu, mas por meio de oração, Deus lhe concedeu mais quinze anos de vida.
O Ministério do Profeta Isaías neste Período (Contexto)
Isaías (19.1-7, 20-34) era um profeta ativo que exerceu sua influência durante a crise assíria. Ele aconselhou Ezequias e profetizou a libertação de Jerusalém. Após a cura de Ezequias, o rei recebeu embaixadores da Babilônia.
Isaías profetizou que todos os tesouros de Ezequias e seus descendentes seriam levados para a Babilônia, uma predição notável, visto que a Assíria era o poder mundial dominante na época.
O Caminho Final para o Exílio de Judá (Capítulos 21-25)
O Reinado Perverso de Manassés (Auge da idolatria em Judá)
Manassés (21.1-18) reinou por 55 anos, o mais longo dos reis de Judá. Seu reinado foi caracterizado por um desvio extremo da aliança. Ele levou Judá ao auge da idolatria, revertendo as reformas de Ezequias. A sua apostasia extrema é ressaltada como a razão fundamental pela qual o exílio para Judá se tornou inevitável.
O Reinado de Josias: A Grande Reforma
Josias (22.1—23.30) também recebeu total aprovação do autor pela sua lealdade. No seu décimo oitavo ano, a descoberta do Livro da Lei no Templo catalisou a Grande Reforma.
Josias promoveu a renovação da aliança e removeu todas as formas de cultos pagãos. No entanto, a apostasia do povo já era tão profunda (em grande parte devido a Manassés) que a reforma de Josias foi considerada tardia e insuficiente para impedir o juízo final. Josias morreu em Megido ao se opor ao faraó Neco.
Os Últimos Reis de Judá e a Rebelião Contra a Babilônia
Após a morte de Josias (609 a.C.), a sucessão monárquica se encaminhou rapidamente para o fim.
- Jeoacaz (23.31-35) reinou por três meses e foi exilado no Egito por Faraó Neco.
- Neco constituiu Jeoaquim (23.36—24.7) rei. Jeoaquim se rebelou contra Nabucodonosor.
- Seu filho Joaquim (24.8-17) foi levado cativo por Nabucodonosor na segunda invasão babilônica (597 a.C.).
- Nabucodonosor estabeleceu Zedequias (24.18-20) como rei, mudando seu nome como sinal de submissão. Zedequias, por fim, também se rebelou contra a Babilônia.
A Queda de Jerusalém e o Cativeiro Babilônico (Destruição do Templo e da cidade)
Por causa da ira do Senhor e da persistência na desobediência e quebra da aliança, o juízo se concretizou. Em 586 a.C., Jerusalém foi destruída pelos babilônios. Os babilônios levaram todos os tesouros da Casa do Senhor, cortaram em pedaços os utensílios de ouro do Templo, e transportaram a população para a Babilônia.
Gedalias e o Remanescente Pobre na Terra
As fontes fornecidas se concentram principalmente na queda da monarquia e no destino dos reis. Não há detalhes explícitos sobre a figura de Gedalias e o remanescente pobre na terra neste material.
Temas Principais e Lições de 2 Reis
O Poder e a Palavra Profética (Eliseu e outros)
O livro de 1 e 2 Reis enfatiza o realce conferido à relação entre a profecia e o cumprimento nos eventos históricos. A história da monarquia é apresentada como o desdobrar do destino de Israel sob a direção do Deus onisciente e onipotente.
Os profetas (como Elias e Eliseu) são ressaltados como emissários oficiais do Senhor, o Grande Rei da aliança. Eles foram enviados para conclamar o rei e o povo à lealdade, mas suas advertências eram, na maioria das vezes, desconsideradas.
As Consequências Fatais da Idolatria e Desobediência (Queda de ambos os reinos)
A principal lição é que o exílio foi a consequência direta da persistência teimosa em violar a aliança. A queda do Reino do Norte foi atribuída à sua contínua desobediência (o pecado de Jeroboão), e o exílio de Judá foi inevitável devido à apostasia extrema, especialmente sob Manassés. Deus fez valer as maldições da aliança após tolerar com muita paciência.
A Paciência e o Juízo de Deus
O Senhor enviou uma longa sucessão de profetas para advertir o povo e os reis e chamá-los ao arrependimento. No entanto, a reforma organizada por Josias foi limitada e tardia. O exílio foi o juízo de Deus.
A Fidelidade de Deus à Sua Aliança
Apesar do juízo e do exílio, o autor consistentemente mantém em vista a promessa feita a Davi. O Senhor manifestou sua fidelidade ao preservar a linhagem davídica (salvando Joás de Atalia) e ao manter a promessa de uma “lâmpada para Davi”.
A Esperança em Meio ao Juízo (Promessas de restauração futuras)
O livro termina com uma nota de esperança. Os quatro versículos finais (2 Rs 25.27-30) relatam que o rei Joaquim foi solto da prisão na Babilônia e elevado a uma posição de honra em 562 a.C..
Este evento sinaliza que o julgamento do exílio não destruiu a linhagem de Davi e que a promessa de Deus para a casa de Davi permanece, deixando o futuro aberto para uma nova obra do Senhor.
Conclusão
O Livro de 2 Reis funciona como uma análise retrospectiva e profética da história de Israel. O autor explica ao povo exilado que o motivo de sua humilhação foi a persistente infidelidade e violação da aliança. No entanto, ao documentar a história da monarquia até seu fim trágico, o livro simultaneamente afirma a soberania de Deus sobre a história e a Sua inabalável fidelidade às promessas davídicas, oferecendo a esperança de restauração futura na figura do rei Joaquim liberto, o herdeiro da aliança.
Que este estudo sobre o Livro de 2 Reis possa ter sido de grande valia para sua vida espiritual e que possa nos inspirar a buscar uma fé mais profunda em Deus, para que possamos superar nossas dúvidas e a viver em obediência ao Seu chamado. Que Deus te abençoe!
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Sou professor de Química e seguidor de Cristo Jesus. Faço parte da Igreja Assembleia de Deus, em Icapuí-CE. Amo estudar a palavra de Deus, pois sei que dela vem o verdadeiro conhecimento do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Acredito, também, que é por meio da compreensão das escrituras que poderemos experimentar o autêntico avivamento espiritual, por isso devemos examiná-las.

